domingo, 20 de janeiro de 2013

A surpresa da 43




Do Rio Grande do Sul me orgulham inúmeras particularidades e pessoas. Terras de Humberto Gessinger, Mário Quintana, Luis e Érico Veríssimo, entre outros por quem encho a boca ao chamar de conterrâneos. Terra da nostalgia, com cheiro de infância feliz e gosto de deliciosas lembranças. Com intuito de reviver momentos e visitar pessoas que muito contribuíram para isto, fiz o que para qualquer morador de Rondônia seria absolutamente comum: percorrer pouco mais de 700 quilômetros, partindo de Florianópolis, Santa Catarina, rumo a São Paulo das Missões, minha pequenina cidade natal.
Mas não foi nada comum.  A primeira e mais cômoda opção, o avião, foi logo descartada, isso porque o Rio Grande do Sul, um dos estados mais desenvolvidos do Brasil possui uma das piores estruturas aeroportuárias. Então, hora de ir à rodoviária, encarar um ônibus e, submeter-me a questionáveis e aparentes injustas concessões e monopólios, já que apenas uma empresa opera no trecho entre a querida "Floripa" até o noroeste do Rio Grande Sul, com um único horário diário. Sem saída, embarquei. Passadas algumas horas, tive a certeza de que havia pegado o ônibus errado, estava próximo de Curitiba, no Paraná. Pasmem! O ônibus era o correto. Esta é a revoltante e única rota, que lentamente parava de rodoviária em rodoviária, nas inúmeras e minúsculas cidadezinhas sulistas, percorrendo muitos quilômetros mais que os necessários.
Contudo, cheguei. Embora indignada com tamanha demora e dificuldade. Abraços, comilanças, saudades e lembranças compartilhadas; hora de dar sequência ao itinerário.  O próximo destino fora Jaguari, cidade localizada no centro do estado, próximo a Santa Maria. O trecho com menos de 200 quilômetros conta com três conexões de ônibus e direito a esperas nas rodoviárias. Para minha mochila e eu, que já estávamos “vacinadas” no assunto, um dia inteiro para chegar ao destino seria tranquilo.
Era início de fevereiro. A temperatura, para desgosto dos que por lá passeavam, não baixava da casa dos 40 graus. Minha intenção naquela cidade era puramente visitar e receber mimos por ser a querida e predileta afiliada de minha adorável madrinha, que mora na zona rural, em uma distante linha chamada Veado Branco. O combinado com ela era de, ao chegar a Jaguari, onde celulares não funcionavam, nos encontraríamos na rodoviária da cidade. Desencontro!  Ela não estava lá. No princípio do desespero, liguei para minha eterna guru, a mamãe. Ela que sempre tem as melhores soluções para tudo, me orientou a pegar o primeiro ônibus que fosse à linha e nele, educadamente explicar minha situação, confiando que alguém saberia o exato local da residência de madrinha, usando como referência o nome de seu esposo, que é político conhecido por aquelas redondezas.
Sábia mamãe, todos sabiam.  Comprada a passagem na poltrona de número 43, hora de embarcar. O ônibus era antigo, muito velho, lotado por passageiros aposentados que provavelmente teriam ido à cidade para sacarem a aposentadoria. Gente de simplicidade cativante, gaúchos interioranos e a moça atípica, com enormes óculos e blusa com laço e detalhe à “oncinha”. Os olhares curiosos sobre mim rapidamente somaram-se aos risos, quando surpresa, notei que a poltrona de número de 43 ficava no corredor, em pé. O ônibus possuía apenas 40 lugares.
Em mais de uma hora de viagem por estreitas e esburacadas estradas, criara-se grande intimidade entre passageiros jaguarienses e turista. O caminho tornou-se curto para tantas prosas e “causos” à la gauches, afinal pessoa que vive em meio a sucuris e onças, naquele lugar, certamente demoraria a por lá aparecer.

2 comentários:

  1. Interessante que a palavra distância possui diferentes sentidos entre um sulista e um nortista. 200 Km de uma cidade a outro para qualquer rondoniense é “moleza”! Ir e voltar da capital no mesmo dia é rotina, mesmo que a distância seja de 500 quilômetros com estradas esburacadas. Tente explicar a um gaúcho! Para ele, seria necesário um ano de plenejamento.rs rs

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