Do Rio Grande do Sul me
orgulham inúmeras particularidades e pessoas. Terras de Humberto Gessinger,
Mário Quintana, Luis e Érico Veríssimo, entre outros por quem encho a boca ao
chamar de conterrâneos. Terra da nostalgia, com cheiro de infância feliz e gosto
de deliciosas lembranças. Com intuito de reviver momentos e visitar pessoas que
muito contribuíram para isto, fiz o que para qualquer morador de Rondônia seria
absolutamente comum: percorrer pouco mais de 700 quilômetros, partindo de
Florianópolis, Santa Catarina, rumo a São Paulo das Missões, minha pequenina cidade
natal.
Mas não foi nada comum.
A primeira e mais cômoda opção, o avião,
foi logo descartada, isso porque o Rio Grande do Sul, um dos estados mais
desenvolvidos do Brasil possui uma das piores estruturas aeroportuárias. Então,
hora de ir à rodoviária, encarar um ônibus e, submeter-me a questionáveis e
aparentes injustas concessões e monopólios, já que apenas uma empresa opera no
trecho entre a querida "Floripa" até o noroeste do Rio Grande Sul, com um único horário
diário. Sem saída, embarquei. Passadas algumas horas, tive a certeza de que
havia pegado o ônibus errado, estava próximo de Curitiba, no Paraná. Pasmem! O ônibus
era o correto. Esta é a revoltante e única rota, que lentamente parava de
rodoviária em rodoviária, nas inúmeras e minúsculas cidadezinhas sulistas,
percorrendo muitos quilômetros mais que os necessários.
Contudo, cheguei. Embora
indignada com tamanha demora e dificuldade. Abraços, comilanças, saudades e
lembranças compartilhadas; hora de dar sequência ao itinerário. O próximo destino fora Jaguari, cidade localizada
no centro do estado, próximo a Santa Maria. O trecho com menos de 200
quilômetros conta com três conexões de ônibus e direito a esperas nas
rodoviárias. Para minha mochila e eu, que já estávamos “vacinadas” no assunto,
um dia inteiro para chegar ao destino seria tranquilo.
Era início de
fevereiro. A temperatura, para desgosto dos que por lá passeavam, não baixava
da casa dos 40 graus. Minha intenção naquela cidade era puramente visitar e receber mimos por ser a querida e predileta afiliada de
minha adorável madrinha, que mora na zona rural,
em uma distante linha chamada Veado Branco. O combinado com ela era de, ao
chegar a Jaguari, onde celulares não funcionavam, nos encontraríamos na rodoviária
da cidade. Desencontro! Ela não estava
lá. No princípio do desespero, liguei para minha eterna guru, a mamãe. Ela que sempre
tem as melhores soluções para tudo, me orientou a pegar o primeiro ônibus que
fosse à linha e nele, educadamente explicar minha situação, confiando que
alguém saberia o exato local da residência de madrinha, usando como referência
o nome de seu esposo, que é político conhecido por aquelas redondezas.
Sábia mamãe, todos
sabiam. Comprada a passagem na poltrona
de número 43, hora de embarcar. O ônibus era antigo, muito velho, lotado por
passageiros aposentados que provavelmente teriam ido à cidade para sacarem a
aposentadoria. Gente de simplicidade cativante, gaúchos interioranos e a moça
atípica, com enormes óculos e blusa com laço e detalhe à “oncinha”. Os olhares
curiosos sobre mim rapidamente somaram-se aos risos, quando surpresa, notei que
a poltrona de número de 43 ficava no corredor, em pé. O ônibus possuía apenas
40 lugares.
Em mais de uma hora de
viagem por estreitas e esburacadas estradas, criara-se grande intimidade entre passageiros
jaguarienses e turista. O caminho tornou-se curto para tantas prosas e “causos”
à la gauches, afinal pessoa que vive em meio a sucuris e onças, naquele lugar, certamente
demoraria a por lá aparecer.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirInteressante que a palavra distância possui diferentes sentidos entre um sulista e um nortista. 200 Km de uma cidade a outro para qualquer rondoniense é “moleza”! Ir e voltar da capital no mesmo dia é rotina, mesmo que a distância seja de 500 quilômetros com estradas esburacadas. Tente explicar a um gaúcho! Para ele, seria necesário um ano de plenejamento.rs rs
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