terça-feira, 10 de setembro de 2013

Adoçando a língua

Acalmem-se, refiro-me à língua portuguesa.

 

               Os gramáticos tradicionalistas condenam a flexão no  plural dos substantivos abstratos saudade, ciúme e felicidade, por (des)entenderem que tratam-se de palavras que exprimem  “noção abstrata”, sendo portanto, enumeráveis. Eu, reles romântica, com pouco conhecimento sobre a gramática e, menos ainda, respaldo ou credibilidade científica, ouso discordar eternamente deles, com tamanha petulância, ao ponto de chamá-los de insensíveis.

                Imagino que tenho reais motivos para acreditar em mim mesma, visto que sei o que é sentir as doces saudades e felicidades. Por senti-las,  entendo  perfeitamente que sua verdadeira essência  encontra-se justamente em sua pluralidade, ou melhor, a dois.
 
              Poucas coisas são tão boas como saudades sinceras, mútua. Que delícia! A troca de carinho, ouvir: "saudades de você!" Talvez melhor que isso são as felicidades a dois, em que inclui-se tudo, e mais um pouco. Aquela tarde preguiçosa, em que nada se faz, em que necessitamos apenas da companhia um do outro, poucas palavras, alguns risos e todas as felicidades, sentidas, imaginadas e futuras.
 
           Juntos com  estes dois substantivos, que nesse florido e romântico jardim semântico passo a considerar como adjetivos; qualidade das pessoas de bem, cabe também, sendo bem dosado e controlado,  muito bem-vindo, o ciúmes. Ele que é a exteriorização do "eu gosto de você, e quero só para mim",  do medo de não mais ter quem tanto se gosta. Só os agraciados pela saudades e felicidades conseguem sentir e gostar do ciúmes. Como eu gosto...
 
           Mas isto tudo não extrapola uma simples, porém apaixonada, opinião, da qual faço questão em repetir: jamais tentarei mudar.
 
        Afronta ainda maior a todos os românticos que, felizmente, não se envergonham dessa bela característica, é considerar o verbo amar como verbo intransitivo. Enraiveço-me ao lembrar das análises sintáticas, que me obrigavam a assim enquadrá-lo. É claro, evidente e tão cristalino que o verbo AMAR necessita de complemento, ninguém é feliz só, sem aquele(a) que te faz sorrir e chorar; te faz viva; te faz sentir; te complementa.
       
        Gente que me coloca, com placar próximo de 1000 a zero, no "chinelo" como Tom Jobim, já sabiamente profetizava: "...Fundamental é mesmo o amor. É impossível ser feliz sozinho..."

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