sábado, 14 de setembro de 2013

Quase tudo são flores, mas nem tudo


           A música sempre influenciou minha vida, mesmo não tendo o dom algum para cantar ou tocar, apenas para ouvir, sempre com o coração. Mas mais que a melodia, sinto-a através da poesia das letras.


           A cada fase da vida, elas me soam diferentes, algumas com intensidade a ponto de encorajarem a transcrever minhas sensações. Pode ser diferente do intuito de Samuel Rosa, mas a mim, a música "Formato Mínimo" (Skank), transmite uma ideia semelhante a estória desordenada abaixo:



Quase tudo são flores, mas nem tudo





        E o que se queria ver transformado em imensos jardins, nem sequer germinou.


       Não era uma cobrança, nem um sentimento egoísta, possesivo, pelo contrário era um dos mais belos. Era apenas um "querer-perto", sincero e inocente, unilateralmente imaginado; frustrado. Os sorrisos futuros, já sentidos, tornaram-se lágrimas; decepção em seu formato máximo.


      Era uma carência melancólica, dificilmente explicável. Era o desejo da concretização de um desejo sublime, de uma vontade, que imaginava-se mútua, mas que não era. Se era, faltou a sintonia. Ou talvez a falta da sintonia fora utilizada apenas para "eufemizar" aquilo que por ele nunca fora sentido.


      Ela só queria a flor, aquela que ninguém compraria, a roubada do quintal alheio, mas que seria a mais linda se posta atrás da orelha pelas mães de quem se imaginava. Ela só queria o beijo, na testa, que externalizasse o carinho e proteção, aquela que só ela esteve disposta a permitir que fluísse.


     Mas não ocorreu, não desta vez.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Adoçando a língua

Acalmem-se, refiro-me à língua portuguesa.

 

               Os gramáticos tradicionalistas condenam a flexão no  plural dos substantivos abstratos saudade, ciúme e felicidade, por (des)entenderem que tratam-se de palavras que exprimem  “noção abstrata”, sendo portanto, enumeráveis. Eu, reles romântica, com pouco conhecimento sobre a gramática e, menos ainda, respaldo ou credibilidade científica, ouso discordar eternamente deles, com tamanha petulância, ao ponto de chamá-los de insensíveis.

                Imagino que tenho reais motivos para acreditar em mim mesma, visto que sei o que é sentir as doces saudades e felicidades. Por senti-las,  entendo  perfeitamente que sua verdadeira essência  encontra-se justamente em sua pluralidade, ou melhor, a dois.
 
              Poucas coisas são tão boas como saudades sinceras, mútua. Que delícia! A troca de carinho, ouvir: "saudades de você!" Talvez melhor que isso são as felicidades a dois, em que inclui-se tudo, e mais um pouco. Aquela tarde preguiçosa, em que nada se faz, em que necessitamos apenas da companhia um do outro, poucas palavras, alguns risos e todas as felicidades, sentidas, imaginadas e futuras.
 
           Juntos com  estes dois substantivos, que nesse florido e romântico jardim semântico passo a considerar como adjetivos; qualidade das pessoas de bem, cabe também, sendo bem dosado e controlado,  muito bem-vindo, o ciúmes. Ele que é a exteriorização do "eu gosto de você, e quero só para mim",  do medo de não mais ter quem tanto se gosta. Só os agraciados pela saudades e felicidades conseguem sentir e gostar do ciúmes. Como eu gosto...
 
           Mas isto tudo não extrapola uma simples, porém apaixonada, opinião, da qual faço questão em repetir: jamais tentarei mudar.
 
        Afronta ainda maior a todos os românticos que, felizmente, não se envergonham dessa bela característica, é considerar o verbo amar como verbo intransitivo. Enraiveço-me ao lembrar das análises sintáticas, que me obrigavam a assim enquadrá-lo. É claro, evidente e tão cristalino que o verbo AMAR necessita de complemento, ninguém é feliz só, sem aquele(a) que te faz sorrir e chorar; te faz viva; te faz sentir; te complementa.
       
        Gente que me coloca, com placar próximo de 1000 a zero, no "chinelo" como Tom Jobim, já sabiamente profetizava: "...Fundamental é mesmo o amor. É impossível ser feliz sozinho..."