sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A CARA DO DESCASO



Paredes sujas e descascadas, mais de uma década sem adquirir um único livro; sinais evidentes de abandono e do “pouco caso”. Esta é a cara da Biblioteca Municipal de Cacoal.

A biblioteca de Cacoal foi construída no início da década de 1980, batizada como “Biblioteca Municipal Vinícius de Moraes”. No ano de 1999 foi reformada e ampliada, além de iniciar-se a montagem do “Museu da Imagem e do Som”, espaço dentro da própria biblioteca que abrigava fotos, quadros e vídeos da cidade de Cacoal, no início do seu desenvolvimento. Hoje, estes materiais ainda encontram-se nas dependências do prédio. Porém, não há espaço adequado para exposição.
A última compra de livros pela prefeitura ocorreu também em 1999, ano que pode ser considerado como marco da estagnação, pois desde esta data, os únicos livros que entraram na biblioteca foram oriundos de doações do Governo Federal ou da própria população. Além do acervo de livros obsoletos e mal conservados, o prédio não é climatizado, o que torna a biblioteca cacoalense ainda menos atrativa à visitação.
A responsabilidade pelo funcionamento e manutenção da biblioteca compete à Funccal (Fundação Cultural de Cacoal), cuja presidente, Maria Lindomar, afirma que “não é por falta de vontade” que as reformas e a aquisição de materiais não acontecem. Ela explica que a Fundação depende da liberação de orçamento pela prefeitura, que na maioria das vezes, por motivos de “excepcionalidade”, acaba destinando a verba da Funccal a outras secretarias como da saúde, educação e obras. Ainda segundo Lindomar, para o próximo ano estão previstas a reforma e aquisição de livros para a Biblioteca Vinícius de Moraes. Será?
Parece ser parte de nossa “cultura” não se incentivar a própria cultura. Irônico, mas infelizmente é a realidade brasileira, em que instituições e gestores públicos insistem em adiar os investimentos pertinentes ao desenvolvimento cultural.
Em meio a esta lamentável situação, repleta de aspectos negativos, existe na biblioteca uma brasileira passível de grande admiração, a senhora Ecléia Vasconcelos, cujo grande sonho é resgatar o hábito da leitura nas crianças. Com dedicação e afinco, Ecléia trabalha há 15 anos na biblioteca de Cacoal e aguarda ansiosamente pelas “melhorias” prometidas ano a ano pela administração municipal. Com esperança, ela revela seu desejo: “ver a biblioteca voltar a funcionar aos sábados e no período da noite”. Para que isto se torne viável, a biblioteca necessita, no mínimo, de mais funcionários, além do aguardo empenho da administração municipal. Assim como Ecléia, muitos cacoalenses estão na mesma torcida, esperando, muito.


  (Texto publicado no jornal Tribuna Popular.)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Frutos do Enem




Exaustão física e mental, falta de tempo e candidatos revoltados, esta foi a essência dos comentários ditos pelos candidatos que realizaram a prova, neste último final de semana.

Em nota divulgada no portal do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), no último domingo, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, avaliou como “positivo” o balanço sobre o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e, na mesma oportunidade, ressaltou que neste ano os “maratonistas” que enfrentaram a prova terão acesso ao espelho da correção da redação, acrescentando: “Nenhum exame do mundo autoriza isso”.  
Obviamente, senhor ministro! Assim como não se tem conhecimento de exame algum “no mundo” que submeta aos cerca de 4,175 milhões de participantes, maioria adolescentes, 180 questões extensas, subjetivas e extremamente maçantes, além de uma redação. Não é mistério para ninguém a precária realidade educacional brasileira. Nossos alunos não estão preparados para este tipo de avaliação.
O estilo da prova prioriza a interpretação em vez de fórmulas e regras, diferentemente dos tradicionais vestibulares. Neste ano, o Enem aderiu como carro chefe a ideologia “Cult”, repleto de filosofias com citações de Jürgen Habermas, Karl Marx, René Descartes e Nicolau Maquiavel, assim como charges, pinturas clássicas, tudo que os alunos praticamente não viram no Ensino Médio, apenas no momento da realização do Exame, que deveria servir para testar os conhecimentos em vez de apresentar novos. Implantou-se um novo estilo de prova sem ao menos que as escolas e professores estivessem preparados para tal. Os materiais didáticos escolares não são consoantes ao estilo do exame, pelo contrário, são contraditórios.  As longas questões do Enem requerem atenciosa leitura, no mínimo por duas vezes, tempo para reflexão e posterior resposta, inviável no curto espaço de tempo ofertado em que se parece testar mais os reflexos e a rapidez dos candidatos.
Castigo ainda maior para os que almejam ingressar na única Universidade pública de Rondônia, a Unir (Universidade Federal de Rondônia), visto que em agosto de 2011, após decisão judicial em Ação Cível Pública, determinou-se a isenção da cobrança da taxa para inscrição em seu vestibular, vindo a Instituição a adotar a nota do Enem como único critério de seleção, mediante a justificativa de que a Unir não poderia arcar com os custos do processo seletivo. Diante da situação, o que moveria os adolescentes rondonienses a se interessar por História e Geografia de Rondônia, por exemplo? Matérias de suma importância.
Tende-se a concluir e apavorar-se com o provável e futuro cenário educacional, pois há uma lógica matemática agregada: se o estilo da prova ignora conceitos básicos para a formação de cidadãos, como a história mundial e brasileira, qual a probabilidade das escolas enfocarem diariamente estes conteúdos em salas de aula? Afinal, valem os índices. As escolas particulares necessitarão decorar seus portões com faixas e nomes de seus alunos aprovados nas melhores Universidades. Para as públicas, mais cotas para encobrir a precariedade. Nada mais óbvio do que adestrar alunos a tirarem boas notas no Enem e esquecer a “coitada” da gramática normativa, as “ pobres” das conjunções, orações subordinadas e coordenadas e demais conteúdos aniquilados no Enem.

sábado, 25 de agosto de 2012

Sensações sobre o itinerário rumo à Montanha Mágica

              Um amigo sempre afirmou que existe vida pré e pós Machu Pichu, eu simplesmente ria, achava-o louco; minha ingenuidade não permitia imaginar que este local fosse realmente tão fascinante. Hoje, após a gratificante viagem ao Peru e, em especial, a magnífica trilha Salkantay, aventura em essência, com cinco dias de caminhada rumo a Machu Pichu, rendo-me e passo a concordar com ele.

              Não me refiro às sensações espirituais (Patha Mama e demais crenças), mas sim a todo aprendizado e bagagem que adquire-se, graças ao contato direto com o natural e os resquícios da rica cultura Inca. Também pelo convívio com tantas e diferentes pessoas e principalmente pelo “auto adaptar-se” a situação e ambiente, bem diferente da por mim acostumada.

           A trilha Salkantay, a que tive o imenso privilégio de realizar, foi uma das experiências mais gratificantes e inspiradoras de minha vida. É difícil? É sim! E muito... O desgaste físico, a altitude e o cansaço são reais, gritantes! Dos cinco dias de trilha, os três primeiros são de muito caminhada, tanto por áreas extremamente íngremes, pedregosas, com muita poeira e mata. Não há conforto algum, pelo contrário, a estrutura é mínima e passa-se por situações como: use a mata como banheiro! Descubra que tomar banho todo dia não é parte de sua rotina! Durma em barracas quando muito frio (muito mesmo), almoce debaixo de Sol usando o chão como mesa e, leve e conviva com muito pouco (roupas e utensílios). Dê valor à água mineral: ela é escassa e muita cara. Porém todas estas situações fazem parte do contexto, serão motivos para alegrar-se diante da paisagem, do ar puro e da beleza do lugar. O ambiente não lhe permitirá desanimar ou permanecer inerte às maravilhas da natureza. A sabedoria dos povos Incas está registrada por todo a caminho, sentimo-nos há anos luzes atrás deles.

          Para mim, o ápice da trilha foi o segundo dia, no exato momento em que chega-se ao pé do monte Salkantay, com a altitude de 4.600m acima do nível do mar. Vê-se muita neve, é extremamente frio e o vento gelado parece querer cortar-lhe! Mesmo assim um sorriso involuntário brota em meu rosto! A vista é fantástica. É a hora em que olhamos para os horizontes, sorrimos e orgulhamo-nos muito, pois a sensação de ter subido tantos difíceis quilômetros e chegar até lá é intraduzível.

         Cada trilha é formada por no máximo quinze pessoas, que serão a sua família durante toda a aventura. Você passa a conviver e confiar nestas pessoas nunca vistas antes, e de todas as partes do mundo (é também bastante cômico). Descobre que a generosidade é sempre a melhor opção e que a gentileza é a melhor arma.

            Não consigo transcrever bem as sensações que senti, são indescritíveis. Uma mescla deliciosamente mágica de gratificação, inspiração, beleza e vigor! Remanescentes de Salkantay certamente me entenderão e darão razão a todo meu fascínio!
        Os Incas reforçaram muitas de minhas ideologias sobre a vida bela.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

O óbvio

        Essa facilidade que o ser humano possui em ser tão adaptável às vezes assusta, não? Mas, “para a nossa alegria”, é muito inspiradora e confortante , assim como uma nota de cem reais encontrada em uma mochila velha, que irá salvar o universitário nos três últimos três dias do mês.
       Nos acostumamos tanto com certas rotinas e pessoas; passamos meses, anos, até décadas, crendo veemente que aquilo que vivenciamos ou simplesmente arquitetamos nos é tão insubstituível e essencial à felicidade, ou que nada no mundo poderia superar algo ou alguém. Mas quão tolos e ingênuos somos! A vida, com toda a sua sutileza e sabedoria, nos faz envergonhar-nos de nossas angústias. Va-ga-ro-sa-mente... Quando pouco se imagina, sem ao menos que se perceba, você descobre que tudo aquilo não faz mais o menor sentido, que o presente e o futuro podem ser muito melhores do que o seu “ex- futuro imagético”, construído egoisticamente baseado em um querer momentâneo, e alheio à realidade, esta que é tão, mas tão bela, depois que a simplesmente percebemos.
       Que bom! Que alívio.... Quando nos damos conta dessa magnífica característica da vida, rapidamente remetemos às sábias palavras de Dona Clarice Lispector, que há tempos já nos avisara, de que “sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas...”, e que, esses “outros” podem ser tão mais deliciosamente belos e fofos do que poderíamos prever ou imaginar. Tudo passar a fazer mais sentido e percebemos então, que não é o Sol que está brilhando mais, mas sim que nossos olhos e mente estão livres! Ah, senhor “Tempo”! Porque não lhe conheci antes.