Que a encantadora e apaixonante a música narrada por Renato Russo, contando a história do simpático casal Eduardo e Mônica, de mundos completamente opostos, nos faz refletir muito sobre relacionamentos e instiga a imaginar que a tão procurada "pessoa certa" pode estar nos mais diferentes perfis, sendo possível, inclusive, uma jornalista romântica apaixonar-se por seu oposto, é fato incontestável.
Mas esta mesma música que embalou nossa adolescência, hoje me é utopia florida, irreal.
Fruto da mesma ideologia do casamento de nosso querido casal, tem-se a conhecida frase "os apostos se atraem". Tudo bem, até podem, mas não conviveriam com a mesma harmonia como aqueles que compartilham dos mesmos gostos, que sentem prazer em viver, estar e ir aos mesmos lugares. Que possuem maneiras semelhantes de enxergar e viver a vida.
Precisamos de quem nos entenda, e para o real entendimento, a lógica é simples: ter uma vivência semelhante a da pessoa. E é exatamente na simplicidade cotidiana que surgem os sinais de que essa tal pessoa, que para muitos, de tão procurada é quase uma foragida, aparece na sua vida, em lugares talvez nunca imaginados.
Daquela conversa informal, que inicialmente ocorre apenas para passar o tempo, que começa com um pouco de política, educação, planos para um futuro próximo e, quando nem se percebe, a conversa então passageira lhe parece a coisa mais importante do universo, a ponto de não mais reparar em quem a sua frente passa.
Através destas conversas você descobre que ela tem gostos semelhantes aos seus, vontades e desejos que parecem ser os seus, de tão iguais que são. A preferência musical combina; ela adora aquele livro que você não vê a hora de começar e o último filme por ela visto está na lista dos seus dez mais.
Na hora, você talvez ainda não saiba, não tenha se dado conta de que através daquela conversa para passar o tempo, você irá querer mudar o mundo de lugar, só para que a sua vida tenha o máximo de tempo para conversar com aquela interlocutora. É a mais doce inversão irônica.
E tem mais: o sinal crucial, aquele que até amedronta por tamanha espontaneidade que carrega: quando os diálogos caminham para assuntos que giram em torno de: "Gostaria de conhecer aquele lugar", aí ela acho isso o máximo e revela que já andou pesquisando sobre o local. É minha cara, nessa hora você inevitavelmente sorri , seu coração acelera e você se obriga a fazer um imenso esforço para não estragar tudo e dizendo, afobada, algo como: - "Poxa, vamos juntos então"! Nessa hora você quer que a conversa pause e se prolongue pelos próximos dias e por outros tempos mais extensos, porque agora você quer os beijos, naturais e inevitáveis.
São as semelhanças que atraem, que confortam, que lhe proporcionam segurança. Que instigam a pensar em momentos sublimes para ambos. É a maravilhosa experiência em ser personagem e não mero acompanhante.